Os novatos em Rotary, como é de costume e boa política, não tardam a receber dos veteranos a orientação necessária quanto à importância da frequência. Frequência, principalmente, no que diz respeito às reuniões plenárias semanais do clube a que vinculados, porém, extensiva, evidentemente, a outros eventos promovidos com a ingerência direta ou indireta do Rotary.
De fato, salta aos olhos que Rotary não faria sentido algum, institucionalmente falando, sem o congraçamento e a interação periódica dos seus afiliados. Foi, aliás, com esse espírito que, nos idos de 1905, o norte-americano Paul Harris surgiu com a ideia de criar a organização, a única com assento fixo na ONU.
A frequência, pois, permite muito mais do que a pausa salutar da semana para descontrair, para fugir um pouco do estresse, para atualizar a conversa, para trocar impressões dos mais variados assuntos. A frequência é muito mais do que isso: ela torna o clube uma realidade tangível, e não uma abstração, prosa e não ficção, emprestando-lhe, enfim, uma dinâmica e um rosto próprios, atribuindo-lhe identidade e personalidade únicas.
Ser sócio com boa ou excelente frequência não implica em uma cortesia, muito menos em uma opção do indivíduo, mas sim em um compromisso pelo bem estar de algo mais amplo, se verdadeiramente o indivíduo possui a compreensão sincera do que significa Rotary.
Nesse panorama, conquanto as entenda e as respeite, não posso concordar, ao menos não inteiramente, com as críticas ao cyberclub rotário, dentre elas, a de que ele signifique o começo do fim para o futuro do movimento em si, ao relativizar a figura da “frequência”. É que, se de um lado, tem cabimento afirmar que a frequência condiciona a existência e a longevidade de qualquer clube físico de Rotary, de outro lado, ela não se pode pretender imune a certos temperamentos carreados pela modernidade, sobretudo, no que alude aos sócios na faixa dos 30 aos 40 anos de idade, o que é o meu caso.
Com efeito, manter uma taxa de frequência próxima aos 100% em Rotary considerado o atual mercado de trabalho e às exigências da livre competição, notadamente para a dita faixa etária de sócios, é cada vez mais difícil.
Tomando como exemplo a minha área profissional que é a advocacia, em cotejo com o horário das plenárias de meu clube, o Recife Boa Vista, do Distrito 4500, que abrange das 12h30min às 13h30min, basta referir que, nesse exato intervalo, o Judiciário está iniciando suas atividades, não sendo incomum que, também nesse período, o advogado se sinta premido a se deslocar até o Fórum ou aos Tribunais para a obtenção de cópias, protocolização de petições ou recursos, audiências, sustentações orais em julgamentos etc.
Acrescente-se que o sócio que se encaminha para a plenária saindo, por exemplo, de pontos mais afastados daquele onde ocorrem as reuniões, necessita ausentar-se do seu local de partida com antecedência de, no mínimo, meia hora, gastando outra meia hora para retornar, o que o mantém afastado de sua ocupação por nada menos do que duas horas. Não é pouca coisa.
Mesmo, contudo, com esses complicadores, agora em 2011 quando completo uma década de rotarianismo, venho procurando ser 100% de frequência, recuperando via cyberclub, no máximo, uma reunião mensal (em circunstâncias atípicas, duas).
O cyberclub funciona, para muitos, como outra opção para evitar frequência decrescente, imaginando que, da mesma maneira que se torna difícil estar no próprio clube semanalmente, também não é simples fazê-lo em outros clubes físicos.
O que se mostra fundamental, no âmago desse debate, é, pois, buscar criar mecanismos que coíbam frequências 100% artificiais de recuperantes do cyberclub, na medida em que situações como tais consubstanciam distorção inadmissível em Rotary, e, aí sim, depõem contra o próprio cyberclu.
No quadro atual, é cada vez maior o número de sócios com pouco comparecimento físico, alguns, inclusive, que há vários meses, até mesmo mais do que isso, não aparecem nos seus clubes, mas que, nada obstante, são 100% de frequência ou quase isso, na medida em que recuperam suas ausências pelo cyberclub.
Não me parece que os idealizadores do cyberclub concordem com esse uso da ferramenta, menos ainda aqueles que presidem clubes rotários, governadorias distritais e o próprio RI.
Fica, assim, a provocação do tema, na esperança do provocador de que ele gere frutos aproveitáveis, que conduzam a um Rotary cada vez mais forte e numeroso.
Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
RC Recife – Boa Vista – Distrito 4500
Classificação: Advocacia Cível e Criminal
Texto colhido no e-clube Distrito 4500